“Mulher Sem Fim”Teatro ∙ Uniso – Campus Trujilo
Em apresentação solo, a bailarina e atriz do grupo Katharsis Teatro Andréia Nhur (finalista do prêmio APCA de 2015 na categoria Melhor Atriz por As Estrelas São Para Sempre?) apresenta Mulher Sem Fim no Câmpus Trujillo – Auditório Salão Vermelho da Universidade de Sorocaba – no dia 20 de maio, sábado, 19h, com entrada gratuita (ingressos distribuídos a partir das 18h). O espetáculo foi contemplado com o Edital Proac-04/2022 (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo) para circulação estadual.
Neste trabalho, Andréia contou com colaboração dos demais integrantes do Katharsis Teatro: a musicista e bailarina Janice Vieira (sua mãe), o dramaturgo, diretor e iluminador Roberto Gill Camargo (seu pai) e a atriz e produtora Paola Bertolini. Em cena, a artista dança, canta e representa em uma narrativa descontínua corpos de mulheres tomados pelos contextos em que elas vivem.
O trabalho anuncia relações corpóreas e sonoras sobre construção do feminino, opressão, liberdade, loucura, devaneio, poder, resistência e infinitude, por meio de uma proposta estética que mistura dança contemporânea, teatro, música e performance. A estrutura cênica se ancora na fisicalidade e na vocalidade, trazendo questões femininas e feministas em movimento intermitente.
Tangenciando as narrativas críticas da opressão e fracasso do corpo feminino diante do patriarcado, o solo abre frestas para uma outra abordagem: não se trata de uma peça-denúncia, mas de uma peça-dança-multilíngue enunciada por um corpo que constrói e destitui exaustivamente sua cisgeneridade para dar vasão a leituras e reflexões abertas sobre a condição feminina.
Para criar o solo, Andréia recorreu a um recurso central na pesquisa do Katharsis – a busca da materialidade da cena antes de algum significado imediato – as mulheres construídas por Andréia transitam de uma para a outra por associações que se mostram em seus gestos e textos. “No Katharsis buscamos as associações antes dos significados. Procuramos entender onde o gesto, a voz e outros elementos conduzem o corpo”, explica Andréia.
Sendo assim, a representação de uma reza árabe vira a imagem de uma escultura de Afrodite para logo em seguida se tornar a canção Jesus, Alegria dos Homens, de Bach. “As culturas vão se transformando no corpo a partir do que cada som ou movimento lembra. A partitura corre pelo meu corpo e chega nas imagens dos cantos, por exemplo”, conta a artista.
Em alguns dos quadros, a atriz referencia personagens femininas conhecidas mundialmente, como Emma Bovary, do romance francês de Gustave Flaubert Madame Bovary, e Lady Macbeth, da peça Macbeth, de William Shakespeare.
“A visão que Emma criou da liberdade está muito associada ao que um homem poderia oferecer a ela. Emma é uma espécie de heroína aprisionada, porque tudo que existia em seu universo era parte de uma construção masculina”, avalia Andréia. Sobre Lady Macbeth, ela pontua o fato de que ambicionar o poder e arquitetar sua liberdade – e a de seu marido – lhe custou a vida.
Andréia também reproduz o canto de uma pastora cristã para experimentar o que “a voz da religião pode fazer com a voz de uma mulher” e se referencia a mulheres assassinadas por regimentos totalitários na história universal, como Joana D’arc, queimada viva, e Mary Stuart, decapitada.
A artista ainda conduz o público num canto à Nossa Senhora do Rosário que resulta do relato de Dadá, esposa de Corisco (cangaceiro de Lampião) – cuja morte foi fundamental para o enfraquecimento do cangaço – e passa por uma menção à cantora e atriz luso-brasileira Carmen Miranda.
“São várias narrativas que se encerram e chegam nas outras”, sintetiza Andréia, reforçando no entanto que o que conduz Mulher Sem Fim é a narrativa de mulheres vivendo nos limites do que suas culturas oferecem. Como definiu o crítico boliviano Mijail Zapata, “corpo e feminismo são os dois materiais que formam o canto de ‘Mulher Sem Fim’”.
Gill Camargo, iluminador e provocador no espetáculo, diz que a ideia dramatúrgica de Mulher Sem Fim acontece em abismos, se aprofundando em várias camadas e seguindo a estrutura de um espelhamento infinito. O conceito observado por Gill foi cunhado em 1893 pelo escritor francês André Gide.
Ficha Técnica
Texto, Criação e Performance: Andréia Nhur
Colaboradores: Janice Vieira, Paola Bertolini e Roberto Gill Camargo
Iluminação: Roberto Gill Camargo
Produção, Fotos e Operação de Luz: Paola Bertolini
Duração: 45 minutos | LIVRE
Serviço
Mulher Sem Fim
Dia 20 de maio, sábado, 19h
Local: Câmpus Trujillo – Auditório Salão Vermelho da Universidade de Sorocaba (Av.General Osório,35)
Duração: 45 minutos
Classificação: Livre
Ingressos: Grátis (Chegar com 1h de antecedência)