
O Beijo no Asfalto
Nesse domingo (26/10), o Teatro Escola Mario Persico exibe a peça “O Beijo no Asfalto”, às 19h, no Teatro Escola Mario Persico.
Escrita em apenas 21 dias, a peça foi inspirada na história de um repórter do jornal “O Globo”, Pereira Rego, que foi atropelado por um arrasta-sandália, espécie de ônibus antigo. No chão o velho jornalista percebeu que estava perto da morte e pediu um beijo a uma jovem que tentava socorrê-lo.
Nelson Rodrigues mudou “um pouquinho” da história. Na trama do dramaturgo, o atropelado da Praça da Bandeira pede um beijo a Arandir, figura jovem e de coração puro e atormentado. Amado Ribeiro, repórter do jornal “Última Hora” retratado por Nelson no folhetim Asfalto Selvagem, presencia o beijo e, junto com o delegado corrupto Cunha, transforma a história do último desejo de um agonizante em manchete principal. O sensacionalismo da “Última Hora” muda completamente a história, retratando Arandir como um criminoso que empurrou o amante e depois o beijou. A vida do jovem se transforma num inferno e nem mesmo sua mulher acredita que ele é inocente. Por trás de uma história aparentemente simples, “O Beijo no Asfalto” discute questões fundamentais à condição humana. Nelson Rodrigues aproveitou o beijo espontâneo dado por Arandir, homem de coração puro, no atropelado, para fazer um libelo contra a falsidade, o juízo baseado na aparência e as convicções erradas de parte da sociedade.
A peça tem um clima de pesadelo. Todas as pessoas que envolvem Arandir voltam-se contra ele depois da publicação da foto no jornal. Werneck, colega de escritório, lidera o coro dos detratores e começa a constranger Arandir no dia seguinte à manchete do Última Hora. Dona Judith, a datilógrafa, acha que um dia um homem parecido com o atropelado foi até o jornal e transforma sua dúvida em certeza absoluta. A posição da viúva é ainda pior: com medo de ver publicado no jornal o fato de ter um amante, testemunha contra Arandir. É justamente através de seu falso testemunho sobre a ligação dos dois homens que a polícia consegue a prova que necessitava para dar veracidade à farsa.
O detetive Aruba representa o policial burro, que não consegue acertar uma única vez. E dona Matilde, vizinha, simboliza o coro dos fofoqueiros, típicas figuras que adoram bisbilhotar a tragédia alheia. No meio de tanta gente cruel e preconceituosa, é inevitável que uma figura pura e espontânea como Arandir acabasse soterrado. Típica vítima inocente, ele beijou o atropelado para realizar seu último desejo. Arandir só aceitou dar o beijo no asfalto por generosidade e piedade. Não tinha nenhuma maldade impulsionando suas atitudes. Sua bondade, entretanto, não poderia ter futuro num ambiente dominado pela degradação moral e ética. Por isso acaba sozinho, sendo o único homem da terra a acreditar na verdade dos fatos. A surpresa é um elemento bastante explorado por Nelson Rodrigues em “O Beijo no Asfalto”. Além da paixão de duas irmãs pelo mesmo homem, tema sempre recorrente em sua obra, Nelson Rodrigues retratou mais uma vez a imprensa. Criticando o Jornalismo onde ele próprio se criou o autor pinta o retrato de uma imprensa sem um mínimo de qualidade e ética. Num tempo de fake News, “O Beijo no Asfalto” é obrigatório.
- José Alexandre B. Valentim
- José Alexandre B. Valentim
Ficha Técnica:
Elenco:
Arandir Pedro Sales
Amado Ribeiro Eddy Camargo
Cunha Filipe Augusto de Oliveira
Detetive Aruba Giovanni Jaques
Werneck Marco Abreu
Comissário Barros Marco Abreu
Selminha Valéria Nastri
Dália Lara Constantine
Viúva Nathalie Cristiane
Matilde Irene Meira
Neide farias
Lenice Gomes
Nathalie Cristiane
Aprígio Mario Persico
Direção: Mario Persico
Som/Luz: Jefferson Pereira/Eduarda Rodrigues
Serviço:
Espetáculo: O Beijo No Asfalto
Data: 26/11/2023 (domingo)
Local: Teatro Escola Mario Persico
Endereço: Rua da Penha, 823
Horário: 19h00
Ingressos: R$ 20,00 (Preço Único – vendas no local no dia do evento)

