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Foto: Divulgação | Documentário "Shaskya"
Cultura
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Cultura ballroom retratada na série Pose impulsiona movimento em Sorocaba

Glamour, resistência e voguing compõem os salões de baile que, há mais de 40 anos, são espaços de diversão e acolhimento para centenas de jovens LGBTs. A cultura ballroom retratada na série Pose, disponível na Netflix, impulsiona o movimento em Sorocaba (SP).

Assim como na série, os participantes da ballroom de Sorocaba também se organizam em houses, que competem nas chamadas “batalhas”. A kiki house of Shaskya é a primeira da cidade, fundada em agosto de 2018. A kiki house of Ubuntu, fundada em maio de 2019, também compõe a cena ballroom de Sorocaba.

A house of Shaskya foi criada pelo coreógrafo e modelo Bruno Salera. Ele conheceu a cultura dos bailes por meio de um estudo aprofundado do voguing, que é inspirado nas poses que as modelos faziam nas páginas da Vogue. A dança, considerada uma marca da cultura ballroom, ganhou visibilidade com a canção “Vogue”, da Madonna.

“Quando eu tive o primeiro contato com a ballroom em si, foi o momento em que eu percebi que eu podia ser eu mesmo. Poderia ser quem eu queria ser!”, conta Bruno, que também dá vida a drag queen Katrina Shaskya.

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Bruno Salera, fundador da house of Shaskya | Foto: Matheus Carneiro

Bruno aprofundou os estudos na ballroom em 2016, com um grupo de pessoas. E então, após dois anos, decidiu que era o momento de fundar a própria house. “Você fazer parte da ballroom não é apenas você ir para a ballroom. Você acaba sendo a ballroom. É um estilo de vida, é uma possibilidade. É pop!”, afirma Bruno.

Ambiente acolhedor

Atualmente, a Shaskya conta com 21 integrantes, presentes em cinco cidades do país: Votorantim, Sorocaba, Campinas, Curitiba e Londrina. Uma das participantes é a paulistana e blogueira Odara Soares, que recebeu o título de princess da house.

“Como sou uma femme queen, uma mulher trans, uma travesti, eu sou o pilar principal dessa cena, em que as protagonistas principais são as femme queens. Tudo o que acontece no baile é, ou vem de, ou deriva-se de algo relacionado às femme queens”, explica. Odara lembra que, em 29 de janeiro, é celebrado o Dia da Visibilidade Trans.

Para a blogueira, as houses funcionam como um ambiente acolhedor para a população LGBTQIA+. “Essas houses têm um papel fundamental na vida dessas pessoas. Inclusive, de pré-adolescentes. De apoiar, suportar, conscientizar e preparar essas pessoas para o mundo, que não é fácil. Que não vai ser fácil. E que a gente sabe que é muito cruel”, afirma.

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Odara Soares, blogueira e femme queen princess da house of Shaskya | Foto: Arquivo Pessoal

O primeiro contato de Odara com a ballroom surgiu por meio do documentário Paris is Burning, lançado em 1991. O filme, dirigido e escrito por Jennie Livingston, apresentou ao mundo a cultura dos bailes da cidade de Nova Iorque.

Contudo, a blogueira só teve a oportunidade de participar de um baile em novembro de 2019, quando foi convidada pelo Bruno Salera e pela equipe do Traga Drag para ser jurada da primeira ballroom realizada em Sorocaba. O evento, que aconteceu no Maloca, inspirou a criação do documentário “Shaskya”.

Com a pandemia, a house of Shaskya e o Traga Drag optaram por não fazer nenhum evento. “É uma questão de responsabilidade social. Não só com os nossos, da comunidade, mas com nosso familiares, com nosso ciclo social”, explica Odara.

Ballroom no audiovisual

Documentário sobre a cena ballroom no interior paulista, “Shaskya” é dirigida por Bruno César e produzida pelo Caneca Lab, coletivo LGBT e feminista. Durante um mês, a equipe acompanhou todo o processo de realizar uma ballroom em Sorocaba, filmando as houses participantes do evento.

“Foi um aprendizado, e agregou muito para mim como pessoa. Porque eu conhecia a cena ballroom de longe, de filmes. E quando nós estamos lá dentro [vivenciando a cultura de bailes], é outra coisa. É outra energia. E isso é muito, muito legal!”, conta Bruno César.

A expectativa é de que o lançamento do documentário “Shaskya” aconteça em 2021, assim que forem permitidas atividades presenciais de forma segura. Inicialmente, o lançamento aconteceria em junho de 2020, mas os planos foram adiados devido a pandemia do coronavírus.

“A cena ballroom é muito da presença, dos bailes, do calor das pessoas. Então acho que fazer esse lançamento presencial é muito importante, principalmente para esse filme”, afirma o diretor. Após o lançamento, Bruno César pretende levar o documentário para festivais de cinema.

Confira o trailer do documentário “Shaskya”: