A breve história do Galpão Cultural Estação Laranjada
Ter conhecido o Galpão Cultural Estação Laranjada foi uma daquelas experiências no qual fui com diversas dúvidas na cabeça sobre o que encontraria e sai cheio de esperança. Uma ocupação desse porte é digna de respeito. Sem água, comida e energia elétrica, um grupo de artistas se apoderou de um antigo galpão abandonado pelo estado e com toda a organização que um empreendimento deve ter, desenvolveu um projeto que infelizmente foi paralisado após a reintegração feita pelos órgãos competentes após todo o processo de revitalização e no começo de suas oficinas.
Para celebrar esses dois meses de um trabalho árduo para reconstituir um local que estava penoso ao extremo, o pessoal do Galpão Cultural fez a sua grande inauguração no dia 8 de agosto com uma grande festa. Entre as atrações teve shows, intervenções circenses, mágicas, apresentações de futuros projetos, entre outras coisas. Mas vai ficar marcado pra sempre a grande exibição circense que rolou com uma enorme fogueira, meio xamanica e que com certeza foi um dos espetáculos mais bonitos que vi nessa minha vida. Vale lembrar que o consumo de bebida alcoólica foi proibido no role. Isso só prova o engajamento e o comprometimento com a cultura que aconteceu nesse período.
Não é por nada não, mas foi incrível. Conversando com o pessoal da ocupação, eles me passaram todos os relatos do que aconteceram por lá e a única coisa que eu pude fazer foi criar esse texto convidando o máximo de pessoas para conhecerem esse local. Abandonado por 60 anos, sim, 60 anos sem ninguém se preocupar com nada lá, a galera viu uma nota no jornal falando sobre a prefeitura estar entregando o local, que antigamente era um centro de distribuição de laranja, ao estado pela necessidade de um investimento “alto” para o restauro. Assim, enxergaram uma oportunidade para realizar aquilo que é a vida deles, arte.
Cerca de 20 pessoas, e mais algumas que passaram e também contribuíram bastante, começaram um trabalho braçal para deixar o local apto para receber visitantes. Sim, o role estava tão imundo que além da grama alta, se encontrava montes de excremento de pomba com cerca de um metro dentro do galpão, roupas imundas abandonadas, garrafas com água parada com focos de dengue e resto de objetos para utilização de drogas. Ou seja, um local realmente entregue a tudo de ruim que você possa imaginar e mais um pouco. Mas com muita dedicação, conseguiram limpar tudo, alguns grafiteiros deixaram a sua marca por lá e toda a parte ambiental foi organizada. Por ser uma ocupação, rolou aquela suspeita com as autoridades, vizinhos e etc. Mas o trabalho foi tão bonito, que segundo os artistas, a primeira impressão quando chegam lá é que são desocupados, mas depois das pessoas analisarem o que foi feito, todos se derretem e palavras de incentivo são declamadas. Os vizinhos e a comunidade apoiaram extremamente a iniciativa e também ficaram tristes com a reintegração.
A inauguração do Galpão Cultural serviu como um marco do início das atividades do local. Foram oferecidas algumas atividades no espaço depois disso. Workshops de teatro, desenho, malabares, agronomia, foram as primeiras opções que o grupo ofereceu, tudo de forma gratuita. Um enorme gesto de solidariedade ao povo sorocabano e para a nossa cultura.