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Foto: Melqui | De Arruda Fotografia
Cultura
Atualizado em às

“Vidas Negras Importam”

Uma onda de protestos e manifestações tomaram conta das ruas e da internet nos últimos dias. Intitulado como “Black Lives Matter”, em português “Vidas Negras Importam”, os protestos que tiveram início em 2013, voltaram com força contra o mesmo motivo: a violência policial sofrida por pessoas negras.

Nas últimas semanas, no Brasil, entre as mortes de violência policial sofrida por pessoas negras que chocaram o país, está a do menino João Pedro, de 14 anos, que estava em sua casa em São Gonçalo (RJ) e foi atingido por um tiro de fuzil vindo de uma ação policial. Já nos Estados Unidos, George Floyd, de 46 anos, foi asfixiado por um policial ajoelhado em seu pescoço.

Assim, para colaborar na luta antirracista e divulgar o movimento negro da cidade de Sorocaba, o Agenda entrevistou três nomes:

Maria Teresa

Integrante da UNEGRO (União de Negros pela Igualdade), Maria Teresa frequenta o coletivo há 10 anos. A UNEGRO é uma entidade fundada há 32 anos com atuação em todo o território nacional, inclusive na cidade de Sorocaba.

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Maria Teresa

Matheus Dantas

Jornalista e criador da marca de vestuário Raiô, que se mostra como ponte de comunicação e artivismo na internet, Matheus compartilha suas ideologias por meio de projetos autorais na área da escrita, moda e audiovisual, dando destaque a pautas como o movimento negro e a comunidade LGBTQ+.

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Divulgação

Melquisedeque Silva

Melqui, também como é conhecido, é cofundador do Coletivo Contraproposta, uma produtora cultural e frente étnica de hip hop; organizador do talk show “Papo de Preto pra Preto”; educador social, e participante de outros movimentos e coletivos que envolvem o hip hop.

melquisedeque

Melqui | Amanda Fogaça


Confira o bate-papo com os entrevistados:

O que é o movimento “Vidas Negras Importam”? 

Matheus: É mais do que um movimento. É um momento, um grito que descreve a angústia e a insatisfação de um povo que não aceita mais viver sobre as mazelas ou correntes que foram impostas no passado. Correntes estas, que hoje são subliminares, mas que existem em todos os lugares, ambientes de trabalho, lares e convívio em sociedade, em geral.

Este grito simboliza um basta, diante de tudo, e um estopim de algo muito maior que nós todos, é sobre sobrevivência. Um ponto muito importante, é sabermos de onde e como ecoa esse grito em cada espaço no mundo. Porque, mesmo diante de acontecimentos com semelhanças entre si, pautados numa ideologia racista e criminosa, cada povo chegou até aqui, vivenciando diferentes perspectivas do racismo, justamente por conta do que foi vivenciado e feito no passado.

O objetivo final, digamos assim, é o mesmo, que é uma retomada, ou melhor, a cobrança de uma equidade de respeito, oportunidades e dignidade, como ser humano, sendo negro. Todas essas lutas se somam, entre si, e colaboram para algo maior que todos vivemos.

– O que é racismo e de que forma ele acontece no Brasil?

Melqui: Racismo é quando uma raça se coloca acima de outra raça, a partir de uma superioridade. Muitas pessoas colocam a população preta como sub-raça, e o racismo entre a questão do preconceito é a que mata.

A escravidão no Brasil aconteceu de forma desumanizada. A questão dos povos escravizados acontece desde que a humanidade resolveu trabalhar em sociedade, já que algumas comunidades se colocavam mais fortes do que outras. Por exemplo, os gregos que foram escravizados pelos romanos, continuavam suas funções de médicos, professores e etc. No Brasil, os escravos eram objetos, facilmente descartados, e essa situação se propaga até hoje.

A democracia racial no Brasil é mentirosa, é só fazer um exercício mental. A maioria das pessoas que estão em situação de rua, que estão dentro dos presídios e que são vítimas do feminicídio, são pretas! Quando a pele é preta, a cobrança é maior e a situação é facilmente descartada.

Como colaborar na luta antirracista?

Maria Teresa: Simples, mudando as atitudes. Colaborar na luta antirracista significa além de reconhecer o privilégio da origem, fortalecer homens e mulheres, negros e negras, nas suas mais variadas expressões de existência, mudando a direção do seu olhar.

Passe a se perguntar por que naquela reunião de diretoria não tem nenhuma mulher negra ou homem negro. E se você está em lugares de poder e decisão, contrate profissionais negros. Faça seus processos seletivos garantindo a presença de pessoas negras para todos os cargos. Incentive empresas parceiras a fazerem o mesmo.

Tome a decisão de tirar as pessoas negras das posições de servis e as coloque ao seu lado, reconhecendo nelas o mesmo valor que você reconhece em você e nos seus pares. O racismo estrutura nosso olhar para as pessoas e somente nossas atitudes que podem diminuir o abismo que a branquitude abriu na relação com as pessoas negras.

Pode ser muito interessante conhecer homens e mulheres com narrativas tão ou mais interessantes que a sua.


Conheça e acompanhe artistas, coletivos e canais de conteúdo da cidade:

MOMUNES – Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba
Ananda Jaques
X4 Hip Hop
UNEGRO
Marvena
Joéssica Borges
Baile das Pretas
Pe$o Gang
Os Pereras
Júlio Moura
DJ Moraes
DJ Samuel Subcultura
Hugo Rafael

Conhece mais algum coletivo ou artista e tá afim de indicar pra galera? Deixe sua sugestão nos comentários