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Sobre(vivendo) ao Febre

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Foram 33 horas de muita correria, passando por 8 locais diferentes, 16 shows de primeiríssimas assistidos no total, consegui pegar os 6 painéis que me engradeceram de uma forma sem igual, e se você me perguntar se valeu a pena fazer toda essa maratona para conferir a primeira edição do Febre: Conferência e Música de Sorocaba, só te respondo o seguinte, este final de semana foi histórico!

Parte 1 – dia 24 de Julho

Sombra (SNJ) foi o destaque do palco Largo do Líder na sexta (24). Foto por André Pinto

Sombra (SNJ) foi o destaque do palco Largo do Líder na sexta (24). Foto por André Pinto

 

Tudo começa na sexta-feira, no dia 24 de julho, no Largo do Líder. Acompanhado de uma bela coalhada que o local proporciona, o Alerta Rap abriu o festival com um som que literalmente despertava aquilo que estaria por vir, com letras contestadoras que faziam apologia ao vai lá e faça, não fica aí esperando. Logo em seguida veio o Sombra, pra quem ainda não tá ligado no som dele, procure o disco “Fantástico Mundo Popular”, sem mais. Ter um representante do SNJ no festival só concretiza a importância que o Rap Nacional conquistou.

Para chegar ao SESC e entender um pouco a dinâmica dos painéis foi uma aventura. Caiu uma chuva que a princípio achei fosse um dilúvio para acabar com tudo, mas no final talvez tenha sido uma limpeza para espantar todas as possíveis zicas. As conferências acabaram sendo os momentos mais importantes para mim. Lá funcionava a seguinte dinâmica, um palestrante falava um pouco sobre as suas experiências e depois perguntas eram abertas. No primeiro dia, Kiko Dinnuci (Metá Metá) e Marcelo Takara falaram sobre as suas formações para virarem músicos. Os discursos de ambos eram praticamente o mesmo, acredite na sua loucura independente de tudo e não vacile. Depois vieram Simone Ferreira e Guto Borges, que respectivamente têm projetos sociais que envolvem música na Rocinha, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Minas Gerais.

Mauríco Takara, Kiko Dinucci, Rafael Ferraz no SESC. Foto por André Pinto

Mauríco Takara, Kiko Dinucci, Rafael Ferraz no SESC. Foto por André Pinto

 

Ainda no SESC aconteceu um dos momentos mais memoráveis da primeira edição do Febre. Um discurso do Marcelo Yuka estava programado na comedoria após as palestras. Por lá, o ex-integrante do Rappa ficou por quase 30 minutos abordando diversos assuntos que envolviam cultura, passando desde a música, política até chegar ao futebol. No meio da fala, um senhor, que representa muito bem a cara da sociedade que estamos acostumados, resmungou em voz alta. Marcelo, com toda a sua calma de Buda, parou o que estava fazendo e com toda a educação convidou o cidadão a se retirar, sendo ovacionado logo em seguida. Épico!

Anoiteceu e chegou a hora da festa. O destino escolhido foi o Depois Bar e Arte, onde sempre fui muito bem recebido pelos queridos Merlin e Fernandinho. Lá aconteceram grandes performances do Monoclub, Gregos e Baianos e no final a Paula Cavalciuk, que havia comentado comigo horas antes que raramente sentia nervosismo ao entrar no palco e isso passará com ela essa noite. Aquilo talvez fosse um presságio de quanto os artistas estavam realmente comprometidos em deixar as suas marcas nesses dias, o que realmente aconteceu. Por sorte, ainda deu tempo de ir ao Pub e conferir o show do Boogarins, que foi incrível, todos cantando junto, uma alegria inexplicável e pessoas em transe. Assim acabava a primeira parte desse final de semana que ficou para a história da cidade.

Paula Cavalciuk e banda fecharam a linda noite do Depois Bar com um show enérgico. Foto por Bruno Kalach

Paula Cavalciuk e banda fecharam a linda noite do Depois Bar com um show enérgico. Foto por Bruno Kalach

Boogarins, em noite insana no Pub. Foto por Chris Justtino

Boogarins, em noite insana no Pub. Foto por Chris Justtino

 

 

Parte 2 – dia 25 de Julho

Depois de um primeiro dia incrível, as expectativas para a segunda parte do Febre ficaram maiores. No sabadão, dia 25, tudo começou com um belo show do Mariamadame na sacada do Macs. Foi gratificante ver uma banda que foi uma das primeiras da cidade a ter sucesso com o público dialogando ao longo dos anos com sons que iam desde Los Hermanos, Nação Zumbi a Paulinho da Viola fazendo um show 100% autoral e de extrema qualidade. Lá também rolaram as palavras de alguns garotos do Galpão Cultural Estação Laranjeiras, que fazem um projeto de ocupação muito interessante, convidando todos a conferir um espaço que tem tudo para ser uma atmosfera cultural de muita grandeza.

Mariamadame abriu o sábado com show gratuito no MACS. O público compareceu em peso. Foto por André Pinto

Mariamadame abriu o sábado com show gratuito no MACS. O público compareceu em peso. Foto por André Pinto

 

De lá fui correndo para o SESC acompanhar as conferências do dia. No auditório, os jornalistas Camilo Rocha e Alexandre Matias discutiram sobre distribuição de música, passando toda a evolução do mercado e apresentaram um futuro extremamente favorável e com diversas alternativas para novos e velhos artistas continuarem produzindo. Logo em seguida veio Flávio de Abreu, produtor da Virada Cultural Paulista e Jaqueline Gomes da Silva, secretária da cultura. Com ela o papo foi mais intenso, várias verdades foram ditas, questionamentos colocados em pauta, mas no final tivemos um parâmetro positivo para o futuro.

Jaqueline Gomes da Silva e Flávio de Abreu em diálogos sobre Governo e Sociedade Civil. Foto por Bruno Kalach

Jaqueline Gomes da Silva e Flávio de Abreu em diálogos sobre Governo e Sociedade Civil. Foto por Bruno Kalach

 

Nessa parte do texto faço um agradecimento especial ao Febre por trazer o Cidadão Instigado, que fez uma apresentação inteiramente dedicada ao seu trabalho mais recente, “Fortaleza”. Esse álbum é incrível e nós tivemos o privilégio de receber o quarto show que eles fizeram após o lançamento. Atrações como essa só nos deixam mais esperançoso pelo o que pode vir no futuro. De mais! Sem comentários…

Cidadão Instigado em show histórico do disco “Fortaleza”, no Sesc. Foto por Bruno Kalach

Cidadão Instigado em show histórico do disco “Fortaleza”, no Sesc. Foto por Bruno Kalach

 

Exclusivamente por causa dessa apresentação, acabei indo direto para a Toca do Leão finalizar o dia. Logo de cara já fui surpreendido com a Surf Music totalmente contagiante do Os Pontas para aquecer a noite. Em seguida outra surpresa, a banda Francisco el Hombre fez um show contagiante, pregando o amor a cima de tudo, o clima foi totalmente latino e uma integração muito bonita entre a plateia foi feita no final da apresentação. Para fechar com chave de ouro, o Êxodo da Babilônia foi mais uma banda que fez um show épico, com os metais gritando e levando a galera para bem longe nas ondas do reggae. Mais uma noite foi se encerrando e o sucesso do festival não parava de crescer.

A música latina de Francisco, El Hombre contagiou todo o público. Foto por André Pinto

A música latina de Francisco, El Hombre contagiou todo o público. Foto por André Pinto

 

 

Parte 3 – dia 26 de Julho

Chega o último dia e o clima entre as pessoas era de total integração. O convívio foi muito intenso e o ambiente na Fundec era de grande amizade, como se eu tivesse conhecido todos que estavam lá há muito tempo. Dessa maneira, não poderia ser diferente, o Bit Beat Bite Bright abriu as atividades do dia com um show de Rock bem responsa, dando espaço para o Punk Caipira dos curitibanos do Charme Chulo em seguida. Nessa hora, como quem não quer nada, Pêu Ribeiro, organizador do festival, veio trocar uma ideia e assistiu uma parte do show ao meu lado na maior simplicidade, sendo que eu tinha conversado com ele umas duas vezes na minha vida. Aí você começa a entender o que eu quero passar.

Bit Beat Bite Bright, abrindo o último dia de Febre em show na Fundec. Foto por Amanda Fogaça

Bit Beat Bite Bright, abrindo o último dia de Febre em show na Fundec. Foto por Júlia Leite

Charme Chulo e sua mistura de pós-punk com música caipira em belo show. Foto por Amanda Fogaça

Charme Chulo e sua mistura de pós-punk com música caipira em belo show. Foto por Júlia Leite

 

Mais uma vez pego meu carro e vou correndo ao SESC para não perder nenhuma parte dos painéis. Mariana e Beatriz apresentaram a plataforma de financiamento coletivo Catarse, que pode ser um grande aliado para os músicos que pretendem realizar algum projeto e precisam buscar formas alternativas para monetizar a parada. E depois veio a cereja do bolo, o pessoal do Febre foi tão incrível que deixou as palavras dos organizadores de cultura Anderson Foca (Natal) e Fabrício Nobre (Goiás) por último. Os dois deram show, contaram histórias divertidíssimas e deixaram grande conhecimento e esperança para essa nossa cena musical não esfriar e crescer cada vez mais.

Confesso que o cansaço começou a bater nesse ponto do festival. A cabeça falava: “fique que esse é um momento único”, mas o corpo dizia, “bro, você precisa descansar”. Por ironia do destino, após as conferências, a banda Pedra Branca, com um som hindu totalmente experimental, apareceu e conseguiu alinhar os meus chacras. Se você acha que eu estou viajando, procure o som deles, e caso acabe curtindo, no próximo sábado terá outra apresentação no Festival Ocupação Jovem, no Parque das Águas, no sábado (dia 1/8).

Totalmente revigorado, parti para o último compromisso. Não consegui ir ao Mi Casa Hostel, pois as autoridades deram um ponto final no role. O destino foi Asteroid e lá o clima já era de despedida. O show da banda Wry foi bem intenso, com pratos da batera voando, discursos emocionados e vários brindes com o público. Jair Naves foi o último som ao vivo, a apresentação para dar uma variada foi muito boa também, mas confesso que no último acorde ficou aquele clima de “poutz, acabou”. Para dar uma alegrada, Fabrício Nobre, que havia feito a palestra durante o dia, fez uma discotecagem que encerrou oficialmente as atividades do Febre.

Wry abriu a noite de domingo no Asteroid com pista lotada. Foto por Marceli Marques

Wry abriu a noite de domingo no Asteroid com pista lotada. Foto por Marceli Marques

 

De verdade, as experiências desses três dias foram muito relevantes. A integração, a felicidade no rosto de todos que estavam participando das atividades, o engajamento em fazer acontecer, as troca de ideias e a colaboração foram os pontos fortes desse evento. Além de muita música ao vivo, acredito que o Febre plantou uma semente em cada um que acredita na cena musical que a cidade anda passando e em troca nos trouxe bastante conhecimento. Até a próxima com certeza!

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