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Daniel Bruson, animador de Sorocaba, tem curta-metragem indicado ao Oscar 2024

Quando era criança, desenhava todo dia“. É dessa forma que o Daniel Bruson, de Sorocaba, lembra ter começado na carreira artística. E foi essa paixão pela arte que fez o animador integrar a equipe do curta-metragem “Ninety-Five Senses”, indicado ao Oscar 2024.

Junto a um grupo com cerca de 30 pessoas, de departamentos como produção, animação, trilha sonora e desenho de som, o filme foi produzido por uma entidade sem fins lucrativos de Salt Lake City, a MAST.

A partir do roteiro, a entidade convidou seis animadores independentes para compor a equipe: Gabriela Badillo, do México, Dominica Harrison, do Reino Unido, Michael Grover, Dallin Penman e KC Tobey, dos EUA, e Daniel Bruson, o único brasileiro da equipe.

Sou de Sorocaba, orgulhoso filho e neto de operários das fábricas, metalúrgicos, mecânicos, costureiras e tecelãs. Acho que segui a tradição familiar de dedicação aos trabalhos manuais.

O animador afirma que já admirava os diretores, Jerusha e Jared Hess, antes mesmo de integrar à equipe, por filmes como “Napoleon Dynamite” e “Nacho Libre”.

Foi uma experiência bem legal e ao mesmo tempo um pouco abstrata. Eles confiaram muito no meu trabalho e sinto que deram espaço para que eu contribuísse muito com o filme. Também foi legal pela oportunidade de trabalhar em uma animação coletiva, feita fora de grandes estúdios por artistas independentes, com estilos diferentes compondo um tipo de mosaico animado, a partir de um roteiro muito bonito cujo a ideia era exatamente essa, a de misturar estéticas“, explica.

Além disso, outro diferencial é que o curta foi trabalhado inteiramente à distância, com reuniões em chamadas de vídeo e e-mail.

Nos primeiros meses eu trabalhei sem ter ideia do que os outros animadores fariam. Confiei na condução dos diretores e o trabalho acabou tendo uma atmosfera incrivelmente colaborativa, apesar das distâncias.

 

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‘Sempre gostei de desenhar’

De acordo com Daniel, essa paixão pela arte começou ainda na infância, com incentivo dos pais. Aos 10 anos, foi incentivado por uma professora a participar de um concurso, e ganhou um ano decurso de desenho artístico.

O problema é que eu odiava ir, talvez por uma mistura de timidez paralisante com vontade de só desenhar minhas coisas. Mas meus pais insistiram muito para que eu cumprisse ao menos aquele ano, e hoje eu vejo a importância daquela oportunidade em cada frame de animação que faço“, conta.

Mesmo tendo feito esse curso, o artista conta que só pensou em desenho e animação como um ofício ao entrar no curso de Desenho Industrial na Unesp de Bauru. O contato com professores, alunos e colegas foi a virada de chave que precisava para se dedicar ainda mais ao desenho.

Acho que tive muita sorte ali também, de ser uma esponja humana de 17 anos doida por absorver todo tipo de conhecimento, e de ter encontrado tantas pessoas transbordando de ideias. Vimos alguns curtas e videoclipes na internet, e de repente a gente estava tentando aprender juntos, de forma autodidata e independente do curso, que não tinha uma disciplina de animação na grade, mas que tinha professores muito generosos.”

Com isso, Bruson decidiu fazer um curta de animação para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e teve a certeza que queria trabalhar com animação.

Atualmente, Daniel trabalha como diretor de animação, roteirista, animador e artista gráfico, e já realizou curta-metragens como “Pária” (2023) e “Guaracy (2023).

Trabalho premiado

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O curta “Ninety-Five Senses”, segundo Daniel, passou por mais de 20 festivais e ganhou diversos prêmios em 2023. “Para um filme poder concorrer a uma vaga no Oscar, ele tem que antes ser premiado em ao menos um festival que tenha o selo de “qualificador para o Oscar”, em qualquer lugar do mundo, e “Ninety-Five Senses” foi premiado em três desses, fora outros“, conta.

O filme mostra Coy, um homem refletindo sobre seu passado através dos cinco sentidos do corpo, falando de seus erros e sua busca por redenção pela perspectiva de alguém que aguarda no corredor da morte.

Foram seis animadores convidados. Cinco criaram, cada um, uma sequência para um dos cinco sentidos. Daniel foi o encarregado de todos os momentos de transição entre uma sequência e outra, em que o personagem fala com a câmera, além da sequência final que amarra todo o filme.

Para as cenas de monólogo do Coy, fiz uma animação quadro a quadro digital, mais naturalista e contida, pensando nelas como transições e respiros entre os diferentes estilos dos outros animadores. Já a sequência final pintei quadro a quadro com nanquim no papel, em um estilo bem mais expressivo e vertiginoso, deixando as pinceladas fluirem e repassando os cinco sentidos em um delírio final de Coy caminhando no corredor da morte“, explica.

Apesar da ampla concorrência, o filme teve destaque e foi um dos cinco indicados na categoria de “melhor curta de animação” no Oscar de 2024.

Eu sabia que o filme era bom, mas não imaginava. A concorrência era bem forte, com filmes de maior orçamento ou de estúdios grandes como a Disney, que eu achei que entrariam mas que acabaram ficando de fora. Foi uma surpresa boa.”

“Acompanhei o anúncio dos indicados em uma chamada de vídeo junto com a equipe do filme (veja o vídeo abaixo), cada um em seu canto do mundo, e foi uma alegria geral, todos surpresos e risonhos. Jerusha chorou, o produtor Miles Romney agradeceu a todos os animadores. Foi um dia bom“, explica.

A repercussão fez com que o animador recebesse diversas mensagens de carinho de amigos e seguidores.

“Essa energia é muito boa e me dá sentido para continuar trabalhando“, conta.

Ele afirma que, agora, espera que essa indicação ajude-o a continuar seguindo trabalhando com cinema de animação independente.

Vou seguir com meus projetos este ano: um núcleo de desenvolvimento de animações, um novo curta, participações em longas metragens e diversas oficinas formativas, tudo já em andamento.”

Em uma escala maior, independente de quem ganhar, espero que a premiação faça todos os indicados alcançarem um público maior e traga visibilidade para a animação como linguagem cinematográfica e como forma de conexão entre as pessoas de todos os lugares”, conclui.

A cerimônia do Oscar, considerada a maior celebração do mundo do cinema, acontece no dia 10 de março, às 20h, no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA).

Veja o trailer do curta